Dificuldades com limites pode ser sintoma de transtorno de comportamento
disruptivo
Nos dias
atuais é comum ouvir a queixa de crianças envolvendo dificuldade com limites.
Caso seja algo isolado e passageiro, pode estar dentro na normalidade do
desenvolvimento psicológico infantil.
O que
muitos pais não sabem é que este sintoma pode mascarar um transtorno
responsável por grande parte da procura por serviços psiquiátricos e
psicológicos infantis.
Os comportamentos
disruptivos se caracterizam, essencialmente, por um padrão de comportamento
negativista, desafiador, impaciente, hostil e vingativo, frequentemente
expresso por atos de teimosia e desobediência, pela dificuldade em assumir
erros e pela intenção deliberada de agir para incomodar outras pessoas.
A categoria transtornos do comportamento disruptivo inclui
o transtorno desafiador opositor e o transtorno de conduta. O último consiste
em um padrão repetitivo e persistente de comportamento, no qual são violados os
direitos básicos dos outros ou as normas ou regras sociais, como condutas
agressivas ou perigo de lesões corporais, perdas ou danos ao patrimônio,
defraudação ou furtos, sérias violações de regras. O transtorno desafiador
opositor é menos severo, que envolve um padrão de comportamentos negativistas,
hostis e desafiadores.
A abordagem Cognitivo-Comportamental tem se mostrado
eficaz no tratamento dos transtornos disruptivos, mas especificamente os
programas de treinamento de pais. Ele consiste em ensinar aos pais os
determinantes do comportamento das crianças e oferece estratégias educativas,
as quais são reforço de condutas adequadas, técnicas disciplinares e
envolvimento parental.
Estudos neuropsicológicos apontam também prejuízos
relacionados a diferentes funções executivas, como atenção, flexibilidade
cognitiva, julgamento, formação de objetivos, abstração, planejamento da
sequência de comportamentos impulsivos ou inadequados e automonitoramento.
A criança que recebe o diagnóstico de transtorno
desafiador opositor se não tratado tende a apresentar um risco aumentado para
desenvolver o transtorno da conduta. Outro transtorno mental associado é o TDAH
(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
A psicoterapia Cognitivo-Comportamental, baseada em
estudos empíricos e clínicos, mostra-se como uma possibilidade dinâmica, com
foco na mudança de comportamento e a reestruturação cognitiva de pacientes. Ela
enfatiza a aprendizagem, a inserção dos pais no processo de modificação do
comportamento de seus filhos, incluindo o treinamento de habilidades sociais
parentais.
É comum no início do tratamento os pais manifestarem
sentimentos como vergonha e impotência. Verbalizações como “não sei mais o que
fazer”, “ninguém mais pode com esta criança”, “acho que sou eu quem está
precisando de ajuda” são bastante comuns. Como muitos sentem baixa autoestima e
autoconfiança parental, a primeira tarefa no treinamento parental á ajudá-los a
se sentirem fortalecidos e capazes para a tarefa. Outro objetivo é ampliar os
repertórios afetivos dos pais em relação ao filho, apoio e firmeza em suas práticas
educativas.
O senso comum postula que os problemas de comportamento
das crianças estão relacionados à “falta de limites”, indicando que idéia de
orientação familiar seria ensinar aos pais “dar” estes limites. Todavia, do
ponto de vista cognitivo e comportamental, o “dar limites” refere-se ao
estabelecimento de regras claras e adequadas e gerar contingências para que
estas sejam cumpridas.
Assim, a criança é vista de maneira global, não só como
indivíduo, mas também um ser de relações. Ao oferecermos treinamento aos pais
estamos possibilitando também uma intervenção preventiva, favorecendo o
reconhecimento dos fatores de risco, diminuindo as possibilidades do
desenvolvimento de problemas de comportamento na infância e na adolescência.
Com isso se oferecem ferramentas de manejo parental,
contribuindo para a qualidade de vida da criança e familiar.
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